MORNAS ERAM AS NOITES

"Sem idade sem verdade...

Encontrei-te por acaso. Sorrindo, disseste-me que a vida era bela. Nâo te perguntei a idade. Para quê? Tu eras verâo e tinhas nos olhos a madrugada. Nos gestos, a infância do louco que, montado num pássaro, desafia as nuvens. Cheiravas a rosa abrindo-se na moleza do sol e tinhas a macieza da terra bebendo o orvalho das manhâzinhas. Trazias inteira a doçura do mar no corpo de um bote ao sol poente e o teu sorriso era a beleza de um instante belo.

Como dizer ao verâo ue o inverno acontece frio e triste? Como dizer à madrugada ue ela é mentira, ue é dia, uando a letra vence, e é noite, quando as dores aumentam? Como avisar o louco ue por baixo das nuvens o abismo corre cada vez mais rápido, cada vez mais fundo? Conseguiria dizer á rosa que logo haverá missa pelas almas com terços e flores? Conseguiria? Como dizer à terra ue o orvalho mâo basta e ue a estiagem fere, racha até sangrar? Como? Poderia dizer a um instante que o dia tem muitas horas, muitos meses, muitos séculos? Como dizer ao mar, ao barco e ao sol poente que o ciclone anunicado vem aí? Como?

Olhei para ti e nem perguntaste porue de repente ficara tâo triste. E deixei-te ir. Leve. Suave. Feliz. Sem idade. Sem verdade."

Dina Salustio nació en San Antonio, Cabo Verde. Profesora, asistente social y periodista, trabajó en Portugal, Angola y Cabo Verde. Tiene colaboraciones en prosa y poesía en la prensa de Cabo Verde y en el extranjero. En 1994, se le otorgó el primer premio de literatura infantil de Cabo Verde, y ese mismo año, publicó Mornas eram as noites, una colección de treinta y cinco cuentos. Miembro de la Asociación de escritores de Cabo Verde, partició en la Antología de Poesía Caboverdiana Mirabilis de Veias ao Sol, que fue publicado tanto en portugués, como en francés. En 1999, ganó el tercer premio de literatura infantil, los PALOP. En 1998 fueron editados el libro infantil A Estrelinha Tlim Tlim, y su primera novela A Louca de Serrano.